Quinta-feira, 26 de Fevereiro de 2009
(foto minha)
Falar do trigo e não dizer
o joio. Percorrer
em voo raso os campos
sem pousar
os pés no chão. Abrir
um fruto e sentir
no ar o cheiro
a alfazema. Pequenas coisas,
dirás, que nada
significam perante
esta outra, maior: dizer
o indizível. Ou esta:
entrar sem bússola
na floresta e não perder
o rumo. Ou essa outra, maior
que todas e cujo
nome por precaução
omites. Que é preciso,
às vezes,
não acordar o silêncio.
Albano Martins
Sábado, 29 de Março de 2008
Óleo de Salvador Dali
Acordo com os sonhos a pesar-me na memória.
Não abro os olhos.
Não quero ver a cor do silêncio que inundou o quarto.
Não ouço os pássaros, como em manhãs de outras Primaveras,
E as flores que tenho presas na alma, ainda não abriram.
Adormecidas, nos sonhos que persisto em sonhar.
Talvez vá mergulhar-me no mar, e lave a solidão
Desta manhã que me humedeceu o olhar.
Talvez as flores se alegrem com a brisa da tarde,
E as árvores me ofereçam folhas de amor.
Talvez...
Sinta os teus passos a percorrer o jardim,
E em cada pétala caída pressinta o teu corpo
A desfazer-se em saudade.
[ A solidão já não devia surpreender-me ]
Quarta-feira, 2 de Janeiro de 2008
Dormi contigo a noite inteira junto do mar, na ilha.
Selvagem e doce eras entre o prazer e o sono,
entre o fogo e a água.
Talvez bem tarde nossos
sonos se uniram na altura e no fundo,
em cima como ramos que um mesmo vento move,
embaixo como raízes vermelhas que se tocam.
Talvez teu sono se separou do meu e pelo mar escuro
me procurava como antes, quando nem existias,
quando sem te enxergar naveguei a teu lado
e teus olhos buscavam o que agora - pão,
vinho, amor e cólera - te dou, cheias as mãos,
porque tu és a taça que só esperava
os dons da minha vida.
Dormi junto contigo a noite inteira,
enquanto a escura terra gira com vivos e com mortos,
de repente desperto e no meio da sombra meu braço
rodeava tua cintura.
Nem a noite nem o sonho puderam separar-nos.
Dormi contigo, amor, despertei, e tua boca
saída de teu sono me deu o sabor da terra,
de água-marinha, de algas, de tua íntima vida,
e recebi teu beijo molhado pela aurora
como se me chegasse do mar que nos rodeia.
Pablo Neruda
Sábado, 29 de Dezembro de 2007
Fotografia de Jonas Valtersson
Pássaro azul nas mãos do tempo
Musa florida na Primavera dos sentidos
Olhos d'água a escorrer desejos Amores
Passados E logo outros a sorrir palavras
em jardins encantados e secretos
Penas feitas de silêncios A gritar destinos
E a tecer o tempo
Tempo Um ano Uma vida
Um caminho
Domingo, 4 de Novembro de 2007
Quadro de Jurgen Gorg
O teu jardim
onde eu dançava, encantada,
ao sabor do teu vento enamorado
deixou-me um travo doce
que adivinho desde que existo
e que provei em ti
A tua alegria
uma corrente mágica a prender-me
onde os risos puros da infância
que eu julgara perdidos
me eram devolvidos
O teu amor
envolvia-me em caricias de sóis
abrasadores
a irromperem das manhãs
do teu corpo
Contigo...
fui mar fogoso
porto de serenidade e loucura
espaço de apenas dois barcos
de velas escarlate
e luas azuis
que eram os nossos corpos
apaixonados
e os nosssos olhos
semicerrados
mas
sem o teu sorriso
e a tua luz
seco lentamente
no mar de silêncios
que me deixaste
MT-Teresa
( 5Set07 e 04Nov07)
Quinta-feira, 18 de Outubro de 2007
Pintura de António Peticov
Era uma noite igual a tantas outras.
Entrou na sala onde apenas se via a luz do pequeno candeeiro sobre a escrivaninha. O resto da casa estava às escuras com a excepção do hall de entrada que ela tinha por hábito deixar iluminado, para lhe dar a sensação de que morava ali mais gente.
Acendeu uma vela aromática para disfarçar o cheiro do tabaco e começou a escrever na tentativa de aliviar a melancolia que se começava a apoderar dela. No silêncio esmagador da sua solidão, apenas se ouvia o som das teclas do computador sob os seus dedos.
Não esperava visitas e certamente ninguém lhe iria bater à porta. Estava sozinha como na maioria das noites da semana, mas naquele momento tudo lhe era pesado.
Aquela, era uma daquelas noites em que precisava de ouvir dizer: Amo-te.
Fechou os olhos e imaginou-se a subir uma escada que a levasse para um mundo encantado onde os silêncios fossem leves, as palavras verdadeiras e as pessoas permanecessem para todo o sempre.
Um mundo onde a palavra "partida" não fosse conhecida.
MT-Teresa
(18/10/07)
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Sexta-feira, 28 de Setembro de 2007
.
Esconde-me como se eu fosse a rosa mais rara do teu jardim
Adoça os espinhos que me nasceram na alma
Abre trilhos de ternura na raiz dos meus sentidos
Procura o sol da minha seiva desordenada
Depois...ao descobrires as minhas pétalas
Pelo tempo desbotadas
Guarda-as na caixa dos teus sonhos impossíveis
Como se pérolas fossem
E escuta as palavras proibidas
A quebrar os meus silêncios d'água
.
MT
.
.
neste momento estou: florida
Quarta-feira, 26 de Setembro de 2007
.
"O silêncio é a mais perfeita expressão do desprezo"
(Bernard Shaw)
.....
Será...?
.
neste momento estou: a acordar
Quinta-feira, 20 de Setembro de 2007
Quadro de Yurgen Gorg
.
Às vezes, as palavras só existem porque os beijos se ausentam.
.
neste momento estou: silenciosa
Segunda-feira, 4 de Dezembro de 2006
Parem as palavras
que se soltam,
os versos
que se escrevem,
os cantos
que se ouvem.
P'ra falar de amor
só é verdadeiro
o olhar
mais, não quero
Da minha janela
quero ouvir o mar
mas só o silêncio
me chega aqui
quero ver o sol
mas neste inverno
ele partiu
de mim e de ti
Teresa E.- 25/02/06)
neste momento estou: com todo o tempo do mundo...
É em silêncio
Que mais se ama
Porque as palavras
São pequenas
E estão gastas
É em silêncio
Que calamos a saudade
Que ainda persiste
Na memória das coisas
Mortas e esquecidas
É em silêncio
Que dizemos adeus
Nas partidas e ausências
Impostas, sofridas
E não compreendidas
É em silêncio
Que os olhares se cruzam
E se reconhecem
No mesmo desejo
De se amarem um dia
E...é em silêncio
Que construímos
Todo o nosso mundo
De fantasia.
Teresa E
Julho06
neste momento estou: com vontade escrever
Quarta-feira, 29 de Novembro de 2006
"Mulher à janela" de Dali
Sei quando me visitas e, quando o fazes é para saberes de nós.
Conheces-me tão profundamente que quase adivinhas o que não escrevo mas ainda sinto...
Não tens a certeza se ainda me habitas e por isso vens abrir a porta da minha memória, só para saberes se ainda tens lugar nela.
Interrogo-me...como conseguirás saber o tempo certo da minha fuga para outras paragens.
Dizes-me simplesmente que sabes...
Mas o que me pedes, sem dizeres uma palavra, é mais do que tenho para te dar.
Teria que ser noutro tempo, noutra rua, num outro mar.
Com um poema diferente e olhares de outro amar.
Só eu sei..como teria sido fácil
Se me tivesses sabido amar...
Teresa E.
22/08/06
Quinta-feira, 23 de Novembro de 2006
"Noite Estrelada" de Van Gogh
Chegou do emprego cansada. Era o final de uma semana de trabalho extenuante e pensou para si própria que apesar da fadiga iria ler todos os e-mails que ainda não tinha lido, abrir todas as cartas que se foram amontoando ao longo da semana, ver televisão ou simplesmente não fazer nada e ir dormir cedo.
Por volta das dez horas da noite, já estava a semicerrar os olhos e sentiu vontade de se deitar e de ler um pouco até adormecer. Aquele livro pousado na sua mesa-de-cabeceira há cerca de dois meses já a incomodava. Até era interessante, caso contrário já o teria posto de parte, mas nos últimos tempos só conseguia ler duas ou três páginas por noite.
Ao abrir um e-mail que um amigo lhe enviara, reparou num link de um site de música. Não resistindo ao apelo implícito, abriu o site e começou a ouvir...Com um sorriso pensou que este seu amigo de longa data sempre tivera bom gosto e a conhecia bem.
Deliciada, não mais sentiu o sono e o cansaço e enquanto a música soava, pegou numa caneta, em várias folhas brancas e começou a escrever.
À medida que a noite avançava, uma sensação de paz e de conforto, tomava conta dela, como há muito não acontecia. De tempos a tempos, parava, fechava os olhos e languidamente deixava que a música a invadisse, transportando-a para mundos de sonhos e fantasia, de amor e sensualidade.
Pensava nele, mas estranhamente não se sentia triste.
Pensava em todas as pessoas que tinham feito parte da sua vida.
Teve saudades dos amigos que não abraçava havia tempo, dos que já tinham partido prematuramente, dos amores que tivera, nas oportunidades não aproveitadas.
Sentia que grande parte da sua vida já tinha passado, no entanto isso não a entristeceu, antes fez com que ela entendesse, naquela noite de primavera e de repentina insónia, que queria continuar a viver intensamente todos os momentos, como aquele em que sozinha e em silêncio apenas lhe chegavam baixinho os sons da música.
Teresa E.
29/04/05
Segunda-feira, 20 de Novembro de 2006
Descaradamente pergunto: - Conheces-me?
Do outro lado do mundo nenhum som me chega mas eu sei que me vês e que segues a direcção dos meus olhos, quando perdida deste lado de cá, abro a janela e procuro o tal ponto luminoso no universo onde imagino que estejas.
Pensas que já me sabes de cor e quando digo isto é porque eu sou o que escrevo e por isso de fácil leitura para quem está atento. Nada é tão simples assim. Até mesmo eu!
Deves ter caído de uma estrela e por mero acaso foi junto do sítio onde guardo o tempo passado.
Atrevo-me a pensar que apenas ficaste um segundo, mas foi o suficiente para as memórias se libertarem.
E agora...que faço com elas?
Talvez um avião de papel...que voe...até aí!
neste momento estou:
Domingo, 24 de Setembro de 2006
Estava escrito na minha página do Livro de Destino,
que em 18 de Julho de 1999, eu chegaria a Veneza.
Era a 1ª vez que visitava Veneza e, nesse entardecer em que o sol vermelho já quase desaparecia no horizonte, reflectindo a sua luz magnífica nas águas calmas dos canais, senti a beleza, quietude e mistério daquela cidade.
Veneza, para mim, não será mais um nome ou um ponto no mapa.
Veneza será sempre a mortal inimiga dos sons verbais.
Inspirado em "Italian Journey"
de Johann Wolfgang von Goethe
Teresa E.