Fotos de MTVivências
Entre o campo e o mar recupero energias e faço uma pausa da cidade e do trabalho. A minha Casa das Flores proporciona-me a paz do campo e o contacto com a natureza. O pequeno jardim tem muitas ervas para arrancar e umas quantas flores para mudar de sítio. Eu e a Margarida, que me acompanha sempre, dizemos por brincadeira que elas não crescem como as dos vizinhos porque não lhes damos sossego. Será? Não sei, mas o que nos dá verdadeiro prazer é mesmo arranjá-las, mexer na terra e, se descobrimos um rebento, tentar que ele pegue na "incubadora" improvisada que são uns vasos pequeninos que só servem para isso mesmo.
A nossa grande frustação são mesmo as buganvílias que não dão nada. Já tivemos cinco e neste momento temos duas. Uma, pequena, sobrevivente de um Inverno húmido, ostenta agora uma única flor cor de rosa e minúscula que apareceu de um dia para o outro. A outra, muito franzina, perdeu entretanto todas as flores, vai-se lá saber porquê. No entanto ainda não desistimos de vir a ter uma bela e frondosa buganvília à entrada da casa e de cada vez que as olhamos nas casas dos outros, ficamos roídinhas de inveja, encolhemos os ombros e rimo-nos do nosso "azar".
Os próximos dias vão ser passados desta maneira simples: Passeios a pé pelo campo, tratar das flores e dar uns mergulhos no mar. Claro que os filhos e os amigos de vez em quando aparecem e o churrasco entra em acção.
É bom estar de férias!
Fotografia de Waclaw Wantuch
Se eu fosse tela A lva de fino linho
Deixava-me pintar de A zul-cobalto para me confundir com o mar.
De V erde-esmeralda pincelava o contorno do meu corpo
E os meus lábios retocava de C armim
Por fim... rasgava a solidão
que me cerra as pálpebras, com a cor O cre do S ol,
e quando as nuvens de Preto-M arfim me escurecessem os sentidos
esconder-me-ia no quadro COLORIDO que fiz de mim.
Foto de MTeresaVivências
Debruço-me sobre o mar que me corre nas veias
e toda eu me incendeio...!
[ no sol que ( re) tenho no colo ]
Sossego-me
no desassossego
das marés que me fustigam
o rosto
alvoraçado
ao contemplar a dança
do horizonte em chamas
Refresco-me
na areia
movediça do teu corpo
e essa água
que eu bebo de ti
tem o sal e o fogo
dos meus cansaços
perpétuos e entranhados
Assim me descobres
secretamente
e ao encontrares-me
não sei se me perdes
se me possuis
(e) terna amante
deste mar de sargaços
e desejos
onde me deito
Ah! Mar azul incendiado
tanto sonho submerso nos teus braços.
Foto de MTeresaVivências
Foto de MTeresaVivências
Sofri em mim, comigo passearam, à beira ouvida do mar, os desassossegos de todos os tempos. O que os homens quiseram e não fizeram, o que mataram fazendo-o, o que as almas foram e ninguém disse - de tudo isto se formou a alma sensível com que passeei de noite à beira-mar.
Fernando Pessoa ( Livro do desassossego - excerto)
(foto: © MTeresaVivências)
No horizonte de prata recortam-se falésias soturnas
E sombras dançam nos confins da memória
Sobrevivendo [ainda] no fundo dos meus olhos.
O mar devolve-me o brilho de outrora
Prateado e transparente
E em azul renovado, alcanço os céus
Nas asas de uma gaivota
A rasgar as brumas do silêncio.
Fotos: MT
Mar sonoro, mar sem fundo, mar sem fim.
A tua beleza aumenta quando estamos sós
E tão fundo intimamente a tua voz
Segue o mais secreto bailar do meu sonho.
Que momentos há em que eu suponho
Seres um milagre criado só para mim
Sophia de Mello Breyner
Pintura de Turner
Água, sal e vontade - a vida!
Azul - a cor do céu e da inocência.
Um lenço a colorir a despedida
Da galera da ausência...
.
Mar tenebroso!
Mar fechado e rugoso
Sobre um casto jardim adormecido!
Mar de medusas que ninguém semeia,
Criadas com mistério e com areia,
Perfeitas de beleza e de sentido!
.
Vem a sede da terra e não se acalma!
Vem a força do mundo e não te doma!
Impenitente e funda, a tua alma
Guarda-se no cristal duma redoma.
.
Guarda-se purificada em leve espuma,
Renda da sua túnica de linho.
Guarda-se aberta em sol, sagrada em bruma,
Sem amor, sem ternura e sem caminho.
.
O navio do sonho foi ao fundo,
E o capitão, despido, jaz ao leme,
Branco nos ossos descarnados;
Uma alga no peito, a flor do mundo,
Uma fibra de amor que vive e treme
De ouvir segredos vãos, petrificados.
.
Uma ilusão enfuna e enxuga a vela,
Uma desilusão a rasga e molha;
Morta a magia que pintava a tela,
O mesmo olhar de há pouco já não olha.
.
Na órbita vazia um cego ouriço
Pica o silêncio leve que perpassa...
Pica o novo feitiço
Que nasce do final de uma desgraça.
.
Mas nem corais, nem polvos, nem quimeras
Sobem à tona das marés...
O navio encalhado e as suas eras
Lá permanecem a milhentos pés.
.
Soterrados em verde, negro e vago,
Nenhum sol os aquece.
Habitantes do lago
Do esquecimento, só a sombra os tece...
.
Ela és tu, anónimo oceano,
Coração ciumento e namorado!
Ela que és tu, arfar viril e plano,
Largo como um abraço descuidado!
.
Tu, mar fechado, aberto e descoberto
Com bússolas e gritos de gajeiro!
Tu, mar salgado, lírico, coberto
De lágrimas, iodo e nevoeiro!
Miguel Torga
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Óleo de Isabel Nadal
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Foto de J.G.
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Hoje, convido-vos a ir ver o mar.
Sentem-se num lugar tranquilo onde possam evadir-se e esquecer todos os "pesos" da vida a que não se consegue escapar.
Levem um livro, um jornal ou simplesmente um sorriso.
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Deixem que o cheiro da maresia se misture como aroma do café.
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Juntem-se a mim e tenham um bom fim de semana!
.
.
Agora que falamos pouco ou quase nada, parece que falo com um fantasma que habitou a minha imaginação mas resolveu mudar de "casa".
De vez em quando, visitas-me, mas precisas quase sempre que eu te chame.
Também acontece seres tu a fazê-lo mas nem sempre te abro a porta. Costumavas ficar confuso comigo, dizias tu, precisamente porque eu só o fazia quando queria, não quando tu me chamavas. Continuo assim, agora que mal falamos.
Cada vez que regressas à minha "casa" pobre e nua mas ao mesmo tempo cheia de tudo e povoada de cores e cheiros, o que sentes? Não sei, nunca mo disseste. Em nós tudo se adivinha, nada se confessa. Foi sempre assim!
Cada vez que te deixo entrar, (ambos continuamos com rostos estáticos e sem voz) vou mostrar-te os lugares onde nos "encontrámos", onde rimos e brincámos e até onde nos zangámos algumas vezes.
Tu tentas seguir-me!
Temos a ilusão que tudo se repete mas, qualquer dia, ficará apenas a memória da janela do andar de baixo da minha casa, de onde olhávamos o mar, porque na realidade não tivemos tempo nem quisemos subir ao terraço, de onde a vista é mais deslumbrante.
Tivemos ambos medo de ficarmos encantados com o que poderíamos observar e sentir.
Hoje convidei-te!
Tu transpuseste logo a porta e cá estamos a passear pelo que já foi.
Ficámos silenciosos à janela do piso de baixo, como sempre a olhar o mar mas como se cada um estivesse sozinho perante ele.
E ficámos porque o mar nos aproximou.
Ficámos porque o nosso amor pelo mar e pelas palavras escritas, traçou um fio invisível que nos liga um ao outro.
Ficámos porque aceitámos ambos, em tempos idos, o desafio que o mar lança sempre: O desconhecido, a beleza do movimento, a cor, a atracção pelo mistério.
Aqui estamos. Sem cara, sem voz, sem nos sentirmos, sem amanhã.
Seremos sempre um mistério um para o outro.
Seremos sempre desconhecidos, mas sentindo o pulsar um do outro.
Seremos por fim, o mar nunca domado e eternamente livre
Não sei quando te voltarei a "convidar" para veres o mar comigo. Sei apenas que o veremos sempre, eu do terraço do último piso da minha casa. Tu não sei de onde... Mas sei que o vês tal como eu, em completa solidão...
T.E.
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