Aprendi que apesar dos tons cinzentos que me rodeiam, e dos sons da banalidade que me vão chegando, sou dona de um poder enorme que me faz viajar incólume para lugares só meus. Sítios que pinto com a paleta dos meus sonhos.
" O espírito da dança não tem cor, forma ou tamanho, mas envolve o poder de unir, e também a força e a beleza que se encontra em nós. Cada alma que dança, jovem, velha ou de uma pessoa incapacitada, cria e transforma ideias em movimentos artísticos que podem mudar as nossas vidas "
Gladys Faith Agulhas, bailarina e coreógrafa sul-africana.
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Dança
Para quem danço?
Nem eu sei....
Danço com as palavras, com as mãos, com os olhos
Danço sózinha no meio das gentes
Danço nua, vestida de azul, ou de negro e até de vermelho já me cobri.
Quando as palavras que se escrevem dão o mote à inspiração de outros, a solidão que por vezes nos acompanha nesse acto ( que na maioria das vezes é solitário e silencioso) é rasgada com sorrisos que nos dão força , como este que o meu grande amigo e Poeta Joaquim Sustelo me ofereceu " dançando" comigo. Obrigada por me fazeres companhia.
ESTA NOITE DANCEI SÓ PARA TI
De túnicas de cambraia azul Eu me vesti, Salpicadas de desejos E de beijos Cor de carmim.
E assim, Esta noite dancei só para ti
Nunca sabes quando eu chego... Previamente não to digo. Não te afirmo nem o nego E aquela vez, tão bonita, Da minha última visita Pensas sempre que foi a derradeira.
Mas gosto desta maneira De deixar-te em incerteza...
Este suplício da espera Que sei que te desespera Não tendo de mim sinais... Que ao mesmo tempo te atiça Pra saberes... e te enfeitiça Sempre mais, cada vez mais.
Mas quando para ti danço O toque não é permitido; Ficas na frente sentado Naquela mesma poltrona Onde passas muitas horas Dos dias onde demoras A dirigir-me a coragem.
A dançar se me abandona Na minha dança selvagem O meu corpo à tua frente E vês-me dançar... Somente!
Já dancei com todas as cores: De preto, um tango atrevido!
Já valsei de branco e rosa...
E de azul vestida agora Eu era a tua Isadora Causando-te aquelas dores Que sei que a tua alma sente Por me veres provocando Dançando, rodopiando Aumentando esses calores À tua frente...
Em certas noites Abro a porta mansamente E nem sequer por mim dás... Entro silenciosamente E é o meu perfume que faz A denúncia da chegada.
Quero que me acoites Nos teus braços...
E esses laços De amor, que a vida nunca desfez, Sejam sempre uma alvorada Para nós, Como se ouvíssemos Cada um, do outro, a voz Pela primeira vez...
Nosso caso de amor Ele é sublime, etéreo, Mas onde nada se sabe, Tudo, tudo, é um mistério...
Também há noites em que me contas A tua vida passada; As tuas histórias, algumas até tontas...
E eu fico sentada No chão Apoiada com a cabeça no teu colo A ouvir-te com emoção.
Assim me enrolo A ti, escutando essa cadência Que me acalma Porque conforta tanto a minha alma!
Meu coração-viajante Segreda-me a cada instante Desejos de permanência Que a alma nunca escutou.
Ah, se ficasse contigo Teria como castigo O deixar de ser quem sou!...
As nossas noites são a nossa vida Onde passamos horas de harmonia Um tempo que contudo é de fugida... Ao chegar a manhã, cessa a magia.
Sei que ao partir Te deixo em desespero Sem saberes se hei-de ressurgir...
Mas é assim que eu quero!
Apenas sabes pelo que escrevi Que é à noite Que eu danço só para ti.
Joaquim Sustelo
(totalmente adaptado- com muitos versos iguais às suas frases - do magnífico texto da minha amiga Mar Teresa)
Vesti-me de túnicas de cambraia azul, salpicadas de beijos cor de carmim e esta noite dancei só para ti.
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Nunca sabes quando eu chego, por isso esperas-me receoso e inseguro porque desconheces se a minha última visita, não terá sido a derradeira. Faz parte da ilusão que criei e na qual resvalas todas as noites e, eu sei que gostas desta incerteza que te desespera mas que te enfeitiça cada vez mais.
Quando danço para ti , o toque não é permitido. Ficas sentado nessa poltrona, em que passas muitas horas dos teus dias e olhas-me na minha dança selvagem.
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Já me vesti de preto e dancei um tango atrevido
e até já valsei vestida de branco e rosa ,
mas esta noite em que o meu corpo,
estava de azul vestido,
fui uma Duncan provocadora e livre,
rodopiando á tua volta.
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Em certas noites, abro a porta tão mansamente que mal dás pela minha chegada. Aproximo-me silenciosamente e quando o meu perfume me denuncia, viras-te, corres para mim e abraçamo-nos como se fosse um primeiro encontro. É aí que reside a alquimia, os nossos encontros são sempre primeiros encontros, onde nada se sabe e tudo é mistério.
Também existem noites, em que tu me contas a tua vida passada, as tuas histórias e o teu sentir. Sento-me no chão, com a cabeça apoiada no teu colo e enquanto me afagas os cabelos, eu fecho os olhos e viajo ao som da tua voz quente e calma. Nessas alturas invade-me uma sensação de paz e o meu coração viajante. segreda-me desejos de permanência mas que teimo em não escutar. Se eu ficasse contigo, deixaria de ser quem sou.
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As nossas noites são a nossa vida,
porque com a manhã, cessa a magia
Não sabes se volto,
porque é assim que eu quero.
Apenas sabes que é à noite que eu danço só para ti!