Foto de MTeresaVivências
Sofri em mim, comigo passearam, à beira ouvida do mar, os desassossegos de todos os tempos. O que os homens quiseram e não fizeram, o que mataram fazendo-o, o que as almas foram e ninguém disse - de tudo isto se formou a alma sensível com que passeei de noite à beira-mar.
Fernando Pessoa ( Livro do desassossego - excerto)
" Somos todos campos de batalha, onde se digladiam deuses "
Paul Valéry
.....
Por vezes, sento-me em silêncio na minha casa e apenas me chegam os ruídos distantes e indistintos do mundo lá fora que me confortam. Gosto destes momentos raros em que deixo os meus pensamentos fluir em completa liberdade e a minha imaginação ultrapassa a minha memória. Normalmente, vejo surgir os rostos risonhos e luminosos daqueles que fizeram parte da minha vida e começo a separar as coisas boas das menos boas e retenho as primeiras intencionalmente. É assim que quase sempre engano a memória. Então, sorrio, e vejo desfilar perante mim, os vários capítulos, agrupados consoante as situações, chegando quase sempre à conclusão gratificante de que tudo valeu a pena e que todas as pessoas passaram por mim com um propósito e um desígnio e que o que elas deixaram é na maioria dos casos, algo que nunca esquecerei e que me fez crescer interiormente.
Não sei dizer se são os deuses que comandam este ciclo de constante renascimento, e que eu, nas suas mãos, sou apenas uma simples boneca de carne e osso, presa por fios invisíveis e finíssimos que me fazem andar ao sabor dos seus caprichos.
Sei, com toda a certeza, que o que sou intrinsecamente, não sofrerá alterações profundas.
Sei que o amor sempre me sorrirá.
Sei que a amizade é minha companheira eterna.
Sei olhar e ver
Sei distinguir
Sei ouvir e compreender
Sei perdoar
Podem brincar comigo, os deuses.
Há certezas que são inabaláveis, por isso, pisco-lhes o olho provocatoriamente, e entro nas brincadeiras, com a certeza de que, mesmo caindo na rede que eles tecem, volto a sair renascida.
Não temam os deuses. Brinquem com eles.
(imagem retirada do google)
Estrela da Tarde
Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia
Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca, tardando-lhe o beijo, mordia
Quando à boca da noite surgiste na tarde tal rosa tardia
Quando nós nos olhámos tardámos no beijo que a boca pedia
E na tarde ficámos unidos ardendo na luz que morria
Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia
Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia
Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram
Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos dois corpos cansados não adormeceram
E da estrada mais linda da noite uma festa de fogo fizeram
Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles que à noite amando se deram
E entre os braços da noite de tanto se amarem, vivendo morreram
Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso, se é pranto
É por ti que adormeço e acordo e acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto
Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto!
José Carlos Ary dos Santos
Foto MTeresaVivências
e das profundezas do meu sentir azul
[onde as alvoradas se escondiam]
amanhecem flores rosáceas...
o vazio dilui-se na mistura líquida dos prantos
e o sal sagrado da tua boca tempera o meu corpo
dando vida às areias moribundas da paixão
lentamente, deixo que invadas o meu jardim secreto
onde amores nascem e morrem ao sabor do vento
...cheio de ternura, semeias uma flor no chão do meu desejo
E em tempo de máscaras e de rostos encobertos e dissimulados,
saltam da multidão anónima faces amigas e encorajadoras
e mãos suaves que apertam as nossas solidariamente.
As palavras e os gestos que nos chegam são de uma generosidade extrema.
Estranhamente, a ausência faz a sua entrada triunfante
no corpo de mascarados que o não deveriam ser.
No baile de máscaras que é a vida
chega o momento da verdade.
E de repente temos a visão nítida do que nos rodeia.
E do que realmente tem valor.
Neste tempo de máscaras permitidas,
o teu rosto, descoberto e luminoso,
rompe a ardilosa neblina que me mantinha cativa.
Apesar da chuva e do tempo cinzento,
o que eu vislumbro
é um sol radioso e flores silvestres a nasceram nos caminhos.
" dorme, meu amor, que o mundo já viu morrer mais
este dia e eu estou aqui, de guarda aos pesadelos.
Fecha os olhos agora e sossega o pior já passou
há muito tempo; e o vento amaciou; e a minha mão
desvia os passos do medo.
Dorme, meu amor... "
Maria do Rosário Pereira
.......
[ dedicado ao meu filho ]
Blogs
Eléctricos de Lisboa e não só...
Memórias de um Músico de Baile
Prosa Poética de Maria Luisa Adães
Apagados mas guardados na memória
O meu Blog de Fotografia
Os meus outros caminhos
Desporto
Generalistas
Outros
"Sítios" imperdíveis
25 de abril(5)
abril(9)
adeus(9)
alegria(5)
amigos(30)
amizade(14)
amor(137)
aniversário(9)
ano novo(3)
arte(7)
ausência(17)
azuis(9)
beleza(7)
blog(41)
blogue(5)
café(3)
cinema(4)
cinza(3)
citação(29)
consciência(3)
cores(3)
dança(16)
descoberta(3)
desejos(7)
desencontro(4)
dia do livro(3)
dor(4)
encontro(4)
enganos(5)
escolhas(4)
escrita(3)
espectaculo(3)
eu(12)
fado(4)
férias(5)
filho(15)
fim(4)
flores(17)
fotografia(13)
fotos(11)
fotos minhas(4)
ilusão(3)
inquietação(3)
lágrimas(3)
liberdade(13)
lisboa(10)
livros(8)
lua(6)
luz(4)
mãe(7)
manhãs(4)
mar(19)
margarida(4)
máscaras(5)
memória(18)
miguel torga(7)
morte(6)
mulher(9)
música(19)
natal(8)
noite(19)
olhos(4)
pai(4)
paixão(16)
páscoa(4)
paz(9)
pintura(13)
poema(117)
poesia(85)
portugal(5)
primavera(6)
rugby(6)
saudade(24)
silêncio(15)
sol(5)
solidão(19)
sonho(9)
sonhos(4)
sophia m breyner(18)
tango(5)
tempo(14)
trabalho(5)
triste(4)
tristeza(15)
tu(4)
veneza(4)
vida(225)
video(17)
zeca afonso(4)