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Conheci-a quando tinha 17 anos e dessa época as lembranças são muito vagas.
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Fez parte da minha vida durante muitos anos. Não era do meu sangue, mas o meu filho tem o sangue dela e também "herdou" muito do que ela tinha de bom.
Foi sempre uma mulher de força, pequenina na estatura, grande no amor que às mãos largas dava a todos. Foi um exemplo para quem a conheceu e amou. Era uma pessoa "aglutinadora", ou seja, tudo girava à sua volta, serenamente, todos nos "encontrávamos" quando estavamos com ela, na sua pequena casa, onde por milagre sempre cabia mais um que chegasse sem avisar.
Tinha sempre um sorriso, raramente se queixava, até quando estava doente. Era detentora de um espirito de sacrificio, como eu nunca vi em mais ninguém. Os outros estavam sempre em 1ª lugar.
Quando partiu, deixou um grande vazio, nunca preenchido até hoje. A sua força aglutinadora desapareceu lentamente. Os que ficaram não conseguiram ocupar o lugar que ela tão bem desempenhou.
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Ajudou-me muito, a mim e ao meu filho, em horas dificeis.
Não era do meu sangue mas era a avó do meu filho.
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Chamava-se Nazaré e se fosse viva, estariamos hoje a celebrar o seu aniversário, apesar dos divórcios e 2ºs casamentos que ocorreram na familia.
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Tenho saudades dela.
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(associando-me neste dia triste a um dos seus filhos que também escreve por aqui e no seu Agregando. Envio-lhe o meu abraço fraterno)
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- Olá filho
- Olá mãe
- Então? Dormiste bem?
- Dormi pouco...
- Andas cansado não é?
- Pois...
- Diz-me uma coisa, já te contactaram de novo, para o outro emprego?
- Já
- Já? E então? Não me disseste nada
- Esqueci-me...mas disse-lhes que o momento não era oportuno
- Não??
- Olha mãe, ia ganhar mais, mas era uma função com menos responsabilidade do que a que tenho e isso não me interessa
- Bem... tu é que sabes
- Xau mãe, beijinhos, agora tenho que ir trabalhar
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Este meu filho surpreende-me constantemente!
Como dizia a bisavó paterna dele - " Ah rico filho"
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Quem és tu que assim vens pela noite adiante,
Pisando o luar branco dos caminhos,
Sob o rumor das folhas inspiradas?
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A perfeição nasce do eco dos teus passos,
E a tua presença acorda a plenitude
A que as coisas tinham sido destinadas.
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A história da noite é o gesto dos teus braços,
O ardor do vento a tua juventude,
E o teu andar é a beleza das estradas.
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Sophia de Mello Breyner
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A propósito do resultado disto:
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Lembrei-me disto:
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e também disto:
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25 Abril
Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo
Sophia M Breyner
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Eu que sou da geração que fez o 25 Abril, pergunto:
Onde falhámos ?
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às vezes as vozes do passado
chegam-nos envoltas em véus
transparentes, sedosos,
orvalhados
e das luas reluzentes
saltam salpicos de estrelas
que perdidas no espaço
pousam nas frontes
descuidadas
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o meu corpo, prende-se
numa teia esculpida
pelos tons da aurora
que a rodeiam...beijam
no acordar da eterna
memória
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não me debato, antes
me entrego ao doce bailado
que me é oferecido
pela leveza do abraço
nunca esquecido
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Teresa E
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Surgido do nada, murmurando palavras de doce enleio, me envolves timidamente com os sons que trazes de longe, sons de gente viva e amante.
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Da tua boca nascem chamas de primaveras ardentes que me queimam a alma e dos teus olhos, cegos, consigo ainda recolher a luz dos caminhos que perdi e que por breves instantes reencontro e abraço. Quando sinto a aragem do vento sul invadir-me numa carícia quente sou surpreendida pela tua sombra, pesada e cansada mas tão doce e terna como só um coração sofrido pode reflectir.
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Escapas como areia por entre os meus dedos brancos e magros em direcção às planícies floridas e silenciosas onde apenas se ouve uma suave brisa a chamar pelos nossos corpos ausentes e desencontrados.
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Estou do lado do mar e ensino as gaivotas a voar no teu sentido para que conheças os carinhos envergonhados que lhes confio nos dias em que a solidão vem morar comigo. Ás vezes respondes-me com tamanha dor que se eu pudesse mostrar-te-ia o caminho das minhas flores, da minha janela e do meu sentir.
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Só no meu imaginário consigo mostrar-te tudo o que sou.
Tu... apenas sei que és um vento cálido que sopra do sul
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Teresa E ( 22/03/07)
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Talvez
fosse o desejo
ou a quimera
que da janela
numa vigia
estavam à espera...
... pra dar um beijo
ao despertares.
Talvez de algum amor
a melodia
ao teu ouvido
e com fulgor
ela chegasse...
Sons singulares
que já conheces...
E em tua face
deu-se um afago.
Em mudas preces
terás pedido
que o gesto mago
não mais se fosse...
E nas entranhas
houve um calor
que foi sentido
desenfreado
e estonteante...
mas tão... tão doce...
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Joaquim Sustelo
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Todo o amor que nos prendera
Como se fora de cera
Se quebrava e desfazia
Ai funesta Primavera
Quem me dera, quem nos dera
Ter morrido nesse dia
Ai funesta Primavera
Quem me dera, quem nos dera
Ter morrido nesse dia
E condenaram-me a tanto
Viver comigo meu pranto
Viver, viver e sem ti
Vivendo sem no entanto
Eu me esquecer desse encanto
Que nesse dia perdi
Vivendo sem no entanto
Eu me esquecer desse encanto
Que nesse dia perdi
Pão duro da solidão
É somente o que nos dão
O que nos dão a comer
Que importa que o coração
Diga que sim ou que não
Se continua a viver
Que importa que o coração
Diga que sim ou que não
Se continua a viver
Todo o amor que nos prendera
Se quebrara e desfizera
Em pavor se convertia
Ninguém fale em Primavera
Quem me dera, quem nos dera
Ter morrido nesse dia
Ninguém fale em Primavera
Quem me dera, quem nos dera
Ter morrido nesse dia
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David Mourão Ferreira
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Quebrei uma regra, e coloquei uma fotografia pessoal. Está desbotada pelo tempo. Olhando para ela, é visível o teu carinho e cuidado em me amparares. Como sempre fizeste enquanto eras vivo.
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Há uma coisa que o tempo não devorou: O Amor
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Abraço-te como se estivesses aqui.
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Desde pequena que não entro num estádio para ver Futebol. Entrei em muitos, mas para ver jogos de Rugby e esses nunca tinham direito ao campo "principal" (excepção feita ao Universitário de Lisboa, Porto e Coimbra).
Era o meu pai que me levava e quando ele deixou de ir, o mesmo aconteceu comigo.
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Lembro-me bem do quanto eu gostava de ir aos jogos, porque naquela altura, apesar de estarmos em pleno regime Salazarista, o futebol tinha liberdade (o povo era pacífico, como eles queriam) e deixavam as crianças correr na relva, ao intervalo e no fim dos jogos.
Quando, ainda hoje, ouço o hino do benfica, comovo-me imenso, porque me lembro dos meus tempos de menina, e sempre, mas sempre do meu pai.
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Hoje é a vez do meu filho me "levar".
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Daqui a pouco entrarei no novo estádio da Luz, que por sinal é perto da minha casa e tenho alguma expectativa sobre o que vou sentir. Não é do jogo em si, mas da emoção, do calor humano e acima de tudo das lembranças que esta noite me vão fazer companhia.
Não sei se Deus existe. Não sei se há vida para além da morte, e a maioria das vezes sinto que tudo acaba, quando a vida termina
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Mas hoje, gostava de poder acreditar que sim. Que é verdade e que sendo verdade, o meu pai onde quer que esteja, nos visse aos dois sentados naquele estádio.
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Da tua voz
o corpo
o tempo já vencido
os dedos que me
vogam
nos cabelos
e os lábios que me
roçam pela boca
nesta mansa tontura
em nunca tê-los...
Meu amor
que quartos na memória
não ocupamos nós
se não partimos...
Mas porque assim te invento
e já te troco as horas
vou passando dos teus braços
que não sei
para o vácuo em que me deixas
se demoras
nesta mansa certeza que não vens
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Maria Teresa Horta
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Praia da Samarra no Inverno - foto de JF
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Acordei cedo, tranquila e bem disposta. Pensei na minha "casa das flores" e no mar ali tão perto. Lembrei-me dos cheiros da terra húmida, das flores silvestres, do silêncio e paz que me lavam a alma quando estou lá. Tenho uma vontade irresistivel de pegar no carro...preciso de mexer na terra, nas flores, apanhar as ervas que foram crescendo durante o Inverno e sentada no meu pequeno alpendre deixar que o sol me abrace.
Vou desafiar a minha amiga. No meio da paz e do silêncio umas boas gargalhadas feitas de cumplicidades e pura alegria são um remédio eficaz para afastar o peso de uma semana de trabalho, na cidade.
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Bom fim de semana para todos os que me visitam e juntem-se à Primavera
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De sonhar ninguém se cansa, porque sonhar é esquecer, e esquecer não pesa e é um sono sem sonhos em que estamos despertos
Fernando Pessoa
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Elas são as mães:
rompem do inferno, furam a treva,
arrastando
os seus mantos na poeira das estrelas.
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Animais sonâmbulos,
dormem nos rios, na raiz do pão.
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Na vulva sombria
é onde fazem o lume:
ali têm casa.
Em segredo, escondem
o latir lancinante dos seus cães.
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Nos olhos, o relâmpago
negro do frio.
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Longamente bebem
o silencio
nas próprias mãos.
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O olhar
desafia as aves:
o seu voo é mais fundo.
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Sobre si se debruçam
a escutar
os passos do crepúsculo.
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Despem-se ao espelho
para entrarem
nas águas da sombra.
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É quando dançam que todos os caminhos
levam ao mar.
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São elas que fabricam o mel,
o aroma do luar,
o branco da rosa.
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Quando o galo canta
Desprendem-se
para serem orvalho.
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Eugénio de Andrade
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Ontem um amigo disse-me que achava este meu espaço, deprimente e desesperadamente solitário. Também já me chegaram "vozes" de que a minha escrita transmite essencialmente dor e tristeza. Podem não acreditar mas "isto" ficou a martelar-me cá dentro e de tal maneira, que quando voltei a ler o post colocado esta manhã, esforcei-me por me distanciar para analisar o que escrevi, como se não tivesse sido eu a "autora".
Na verdade...tenho que dar a mão à palmatória (num determinado sentido).
Sou impulsiva na forma como vivo, e não sei escrever a fingir, tal como não sei viver fingindo que sou outra pessoa, apesar de ter aprendido a colocar algumas (poucas) máscaras para me proteger, nomeadamente a nível profissional. Por isso, o que aqui escrevi hoje de manhã foi na realidade aquilo que estava a sentir. É bem verdade, no entanto, que o dia até me correu bem, apesar de andar um pouco cansada e cheia de trabalho e no momento em que escrevo não me sinto nada "pesada de cansaços".
As questões que me coloco são as seguintes:
- Deveria ter evitado escrever o que sentia?
- Deveria ter fingido uma alegria que não sentia?
- Deveria, simplesmente não ter escrito?
E se o tivesse feito; em nome de que causa ? para agradar a quem? para dar uma ideia diferente de mim, porquê?
Sou uma mulher que como milhões de outras mulheres sabe rir, amar, sonhar, chorar e sofrer e acima de tudo lutar. Quando escrevo, faço-o de uma maneira talvez um pouco triste, mas é a minha maneira. Se criei este espaço foi essencialmente para mim, para minha satisfação pessoal, porque mesmo escrevendo quase sempre "com uma tinta dolorida e preta" isso dá-me prazer e ajuda-me no meu dia a dia.
Concluindo: O que aqui está escrito é uma parte do que sou. Possivelmente quando o faço não consigo transmitir o "todo".
Incapacidade minha?
Talvez...mas não sei fazer de outra forma.
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Quando fores velha, grisalha, vencida pelo sono,
Dormitando junto à lareira, toma este livro,
Lê-o devagar, e sonha com o doce olhar
Que outrora tiveram teus olhos, e com as suas sombras profundas;
Muitos amaram os momentos de teu alegre encanto,
Muitos amaram essa beleza com falso ou sincero amor,
Mas apenas um homem amou tua alma peregrina,
E amou as mágoas do teu rosto que mudava;
Inclinada sobre o ferro incandescente,
Murmura, com alguma tristeza, como o Amor te abandonou
E em largos passos galgou as montanhas
Escondendo o rosto numa imensidão de estrelas.
W.B.Yeats
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Cecília Meireles
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