" Somos todos campos de batalha, onde se digladiam deuses "
Paul Valéry
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Por vezes, sento-me em silêncio na minha casa e apenas me chegam os ruídos distantes e indistintos do mundo lá fora que me confortam. Gosto destes momentos raros em que deixo os meus pensamentos fluir em completa liberdade e a minha imaginação ultrapassa a minha memória. Normalmente, vejo surgir os rostos risonhos e luminosos daqueles que fizeram parte da minha vida e começo a separar as coisas boas das menos boas e retenho as primeiras intencionalmente. É assim que quase sempre engano a memória. Então, sorrio, e vejo desfilar perante mim, os vários capítulos, agrupados consoante as situações, chegando quase sempre à conclusão gratificante de que tudo valeu a pena e que todas as pessoas passaram por mim com um propósito e um desígnio e que o que elas deixaram é na maioria dos casos, algo que nunca esquecerei e que me fez crescer interiormente.
Não sei dizer se são os deuses que comandam este ciclo de constante renascimento, e que eu, nas suas mãos, sou apenas uma simples boneca de carne e osso, presa por fios invisíveis e finíssimos que me fazem andar ao sabor dos seus caprichos.
Sei, com toda a certeza, que o que sou intrinsecamente, não sofrerá alterações profundas.
Sei que o amor sempre me sorrirá.
Sei que a amizade é minha companheira eterna.
Sei olhar e ver
Sei distinguir
Sei ouvir e compreender
Sei perdoar
Podem brincar comigo, os deuses.
Há certezas que são inabaláveis, por isso, pisco-lhes o olho provocatoriamente, e entro nas brincadeiras, com a certeza de que, mesmo caindo na rede que eles tecem, volto a sair renascida.
Não temam os deuses. Brinquem com eles.
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