Quantas vezes
o meu grito
se calou
e o meu olhar
sereno e triste
o denunciou
Quantas vezes
as palavras
ficaram presas
nos meus lábios
e o meu corpo
feito de fogo
as revelou
Quantas vezes
já amei
em desesperado
silêncio
e me descobriram
como as palavras
que eu não digo
e me adivinham
Calar para quê
se tudo se pressente...
Teresa E.
(25/08/06)
Alguém me disse ontem que queria só mais uma oportunidade na vida:
Deixa ficar a flor,
a morte na gaveta,
o tempo no degrau.
Conheces o degrau:
o sétimo degrau
depois do patamar;
o que range ao passares;
o que foi esconderijo
do maço de cigarros
fumado às escondidas...
Deixa ficar a flor.
E nem murmures.Deixa
o tempo no degrau,
a morte na gaveta.
Conheces a gaveta:
a primeira da esquerda,
que se mantém fechada.
Quem atirou a chave
pela janela fora?
Na batalha do ódio,
destruam-se,fechados,
sem tréguas,os retratos!
Deixa ficar a flor.
A flor? Não a conheces.
Bem sei.Nem eu.Ninguém.
Deixa ficar a flor.
Não digas nada.Ouve.
Não ouves o degrau?
Quem sobe agora a escada?
Como vem devagar!
Tão devagar que sobe...
Não digas nada.Ouve:
é com certeza alguém,
alguém que traz a chave.
Deixa ficar a flor
David Mourão Ferreira
Poema
Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto, tão perto, tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te perco
Lembra-te Lembra-te que todos os momentos que nos coroaram todas as estradas radiosas que abrimos irão achando sem fim seu ansioso lugar seu botão de florir o horizonte e que dessa procura extenuante e precisa não teremos sinal senão o de saber que irá por onde fomos um para o outro vividos
Estação Esperar ou vir esperar querer ou vir querer-te vou perdendo a noção desta subtileza. Aqui chegado até eu venho ver se me apareço e o fato com que virei preocupa-me, pois chove miudinho Muita vez vim esperar-te e não houve chegada De outras, esperei-me eu e não apareci embora bem procurado entre os mais que passavam.
Se algum de nós vier hoje é já bastante como comboio e como subtileza Que dê o nome e espere. Talvez apareça Mário Cesariny
É nestas alturas que me interrogo..porque ainda não comprei uma máquina fotográfica?
Tirada hoje...pela camara do tlm...
O Sol tapou-se...mesmo no "click" ( o tlm faz click?)
mas...aqui sorriu..só para a fotogafia..vaidoso o Sol!!!! A marca do urbanismo também ficou....se não fossem os candeeiros..que seria das cidades..à noite?
Num deserto sem água
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua
Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua.
Sophia de Mello Breyner
A pergunta:
Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?
A minha resposta:
"Romance" de Alfred Gockel"
Chegou do emprego cansada. Era o final de uma semana de trabalho extenuante e pensou para si própria que apesar da fadiga iria ler todos os e-mails que ainda não tinha lido, abrir todas as cartas que se foram amontoando ao longo da semana, ver televisão ou simplesmente não fazer nada e ir dormir cedo.
Por volta das dez horas da noite, já estava a semicerrar os olhos e sentiu vontade de se deitar e de ler um pouco até adormecer. Aquele livro pousado na sua mesa-de-cabeceira há cerca de dois meses já a incomodava. Até era interessante, caso contrário já o teria posto de parte, mas nos últimos tempos só conseguia ler duas ou três páginas por noite.
Ao abrir um e-mail que um amigo lhe enviara, reparou num link de um site de música. Não resistindo ao apelo implícito, abriu o site e começou a ouvir...Com um sorriso pensou que este seu amigo de longa data sempre tivera bom gosto e a conhecia bem.
Deliciada, não mais sentiu o sono e o cansaço e enquanto a música soava, pegou numa caneta, em várias folhas brancas e começou a escrever.
À medida que a noite avançava, uma sensação de paz e de conforto, tomava conta dela, como há muito não acontecia. De tempos a tempos, parava, fechava os olhos e languidamente deixava que a música a invadisse, transportando-a para mundos de sonhos e fantasia, de amor e sensualidade.
Pensava nele, mas estranhamente não se sentia triste.
Pensava em todas as pessoas que tinham feito parte da sua vida.
Teve saudades dos amigos que não abraçava havia tempo, dos que já tinham partido prematuramente, dos amores que tivera, nas oportunidades não aproveitadas.
Sentia que grande parte da sua vida já tinha passado, no entanto isso não a entristeceu, antes fez com que ela entendesse, naquela noite de primavera e de repentina insónia, que queria continuar a viver intensamente todos os momentos, como aquele em que sozinha e em silêncio apenas lhe chegavam baixinho os sons da música.
Teresa E.
29/04/05
Agora que falamos pouco ou quase nada, parece que falo com um fantasma que habitou a minha imaginação mas resolveu mudar de "casa".
De vez em quando, visitas-me, mas precisas quase sempre que eu te chame.
Também acontece seres tu a fazê-lo mas nem sempre te abro a porta. Costumavas ficar confuso comigo, dizias tu, precisamente porque eu só o fazia quando queria, não quando tu me chamavas. Continuo assim, agora que mal falamos.
Cada vez que regressas à minha "casa" pobre e nua mas ao mesmo tempo cheia de tudo e povoada de cores e cheiros, o que sentes? Não sei, nunca mo disseste. Em nós tudo se adivinha, nada se confessa. Foi sempre assim!
Cada vez que te deixo entrar, (ambos continuamos com rostos estáticos e sem voz) vou mostrar-te os lugares onde nos "encontrámos", onde rimos e brincámos e até onde nos zangámos algumas vezes.
Tu tentas seguir-me!
Temos a ilusão que tudo se repete mas, qualquer dia, ficará apenas a memória da janela do andar de baixo da minha casa, de onde olhávamos o mar, porque na realidade não tivemos tempo nem quisemos subir ao terraço, de onde a vista é mais deslumbrante.
Tivemos ambos medo de ficarmos encantados com o que poderíamos observar e sentir.
Hoje convidei-te!
Tu transpuseste logo a porta e cá estamos a passear pelo que já foi.
Ficámos silenciosos à janela do piso de baixo, como sempre a olhar o mar mas como se cada um estivesse sozinho perante ele.
E ficámos porque o mar nos aproximou.
Ficámos porque o nosso amor pelo mar e pelas palavras escritas, traçou um fio invisível que nos liga um ao outro.
Ficámos porque aceitámos ambos, em tempos idos, o desafio que o mar lança sempre: O desconhecido, a beleza do movimento, a cor, a atracção pelo mistério.
Aqui estamos. Sem cara, sem voz, sem nos sentirmos, sem amanhã.
Seremos sempre um mistério um para o outro.
Seremos sempre desconhecidos, mas sentindo o pulsar um do outro.
Seremos por fim, o mar nunca domado e eternamente livre
Não sei quando te voltarei a "convidar" para veres o mar comigo. Sei apenas que o veremos sempre, eu do terraço do último piso da minha casa. Tu não sei de onde... Mas sei que o vês tal como eu, em completa solidão...
T.E.
2005
"La Vie" de Marc Chagall
****
Não: devagar.
Devagar, porque não sei
Onde quero ir.
Há entre mim e os meus passos
Uma divergência instintiva.
Há entre quem sou e estou
Uma diferença de verbo
Que corresponde à realidade.
Devagar...
Sim, devagar...
Quero pensar no que quer dizer
Este devagar...
Talvez o mundo exterior tenha pressa demais.
Talvez a alma vulgar queira chegar mais cedo.
Talvez a impressão dos momentos seja muito próxima...
Talvez isso tudo...
Mas o que me preocupa é esta palavra devagar...
O que é que tem que ser devagar?
Se calhar é o universo...
A verdade manda Deus que se diga.
Mas ouviu alguém isso a Deus?
(Fernando Pessoa)
****
Quero ir devagar... mas apressam-me
Quero ficar...mas forçam-me a ir
Quero viver...mas quase me matam
....vai ser mais um dia de "cão"
"Dream" de Jurgen Gorg
*
Mostraste-me um caminho estreito, cheio de flores e de cheiros e quando entrei nele, não vi as placas de aviso que lá estavam.
Às vezes, quero regressar ao ponto de partida. Mas é dificil..não o encontro...perdi-me nele...perdi-me em ti.
Tu, que me sorrias com as palavras, que me acenavas com sonhos coloridos e me chamavas com a voz mais doce que jamais havia escutado, recebeste-me com ansiedade, com alegria e desejos ocultos que eu mal tinha percebido.
Abracei-te ternamente e o que era carinho foi-se transformando em loucas vontades de me entregar a ti, sem olhar para trás.
Aprisionaste-me com correntes invisiveis,
Encheste-me de beijos e caricias
Que me foram enlouquecendo
E que me tornaram cativa do teu querer.
Estou fechada dentro do sonho
Que construíste para mim.
Já não vejo as flores,
Só lhes sinto o cheiro, a jasmim
Que era o meu perfume
Quando me entreguei a ti
Teresa E.12/09/06
Hoje estou de verde-alface e preto. Fico mais "viva" costumam dizer-me.
Até os meus olhos, que são azuis, estão esverdeados. Ser "traída" pela cor do olhos, é injusto, porque a maioria das pessoas que olham para mim, consegue "ler" o meu estado de espirito. Quando estou "imprópria para consumo" como ontem, ficam cinzentos claros e mesmo que tente sorrrir não consigo enganar ninguém.
É incómodo isto. Mas sou assim desde que me conheço e aprendi a gerir as verdades que o meu olhar não consegue esconder.
Por exemplo quando estou apaixonada, se é um amor secreto, proibido, tenho que ter muito cuidado, para ninguém perceber. Claro que todas as pessoas são assim. O Enamoramento é um estado de graça, como muito bem diz o Alberoni e todos os dias na vida dos enamorados são dias de Sol. No entanto conheço pessoas que sabem disfarçar bem. Eu sou um desastre absoluto. Toda a gente nota e os que me são mais próximos, perguntam--me. Eu nego, mas os meus olhos e o meu sorriso denunciam-me. Dizem até que tenho uma forma de sorrir diferente do habitual.
Fazer o quê?
Nem sei porque me lembrei hoje de escrever sobre isto.
Deve ter sido o Sol.
Dia cinzento escuro, tão escuro que até mudei a cara do blog. ..será isto um blog?
Sem grande paciência para escrever!
Escrever para mim, porque aqui ninguém vem, pelo menos que eu saiba.
Sem grande paciência para estar! Pelo menos aqui, neste bloco de cimento e vidro. e, também com este tempo de cinza, ir para onde?
Detesto os dias assim. Hoje até me vesti de azul claro, para enganar os meus olhos e os outros que vão passando para mim.
Estes dias não deviam existir. Pelo menos para mim.
Tanta falta que me faz o sol.
De tudo ao meu amor serei atento,
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive,
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor ( que tive ):
Que não seja imortal posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Autor: Vinícius de Moraes
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