Sábado, 30 de Setembro de 2006
Quando acordei, fui ver as árvores e o campo, como faço todas as manhãs. A minha janela está sempre aberta e por isso o tempo nunca me surpreende. Hoje por exemplo, o meu quarto estava ainda escuro e um pouco triste, devido à ausência de sol e de luz , porque nesta manhã de Outono, Lisboa acordou cinzenta e chuvosa.
Não gosto dos dias assim. O cinzento passa do céu, directamente para mim. Pensei no significado da palavra cinzento e senti que preciso de outro termo para definir este estado de alma. Se a minha lingua materna fosse o Inglês, seria "blue".
Neste dias, vejo sempre umas aves brancas, no campo, em frente à minha casa. Não sei o que são, mas também não procuro saber, porque neste óasis de verde, que todas as manhãs me regala o olhar, tudo é possível, até acordar com o som dos tractores a lavrar a terra. É em Lisboa que eu vivo, mas por mero acaso, escolhi morar neste sítio que o tempo ainda não transformou por completo. Ainda tenho o verde e os pássaros que repousam aqui de vez em quando e ainda consigo ver o nascer do Sol e o sorriso da Lua cheia nas noites de Verão.
Nesta manhã cinzenta de Outono, em que a solidão esperava o meu acordar, gostava de partilhar a minha janela contigo. Tomaríamos o café, acabado de fazer, em silêncio consentido mas cheio de significados e quando me olhasses, cheio de ternura e amor, o azul dos meus olhos espalharia a sua cor pelo céu e esta manhã passaria a ser radiosa e cheia de luz.
Mas tu não estás e, hoje, o meu olhar deixou de ser azul e está da cor do dia..."blue" !
Teresa E.
30/09/06
Domingo, 24 de Setembro de 2006
Estava escrito na minha página do Livro de Destino,
que em 18 de Julho de 1999, eu chegaria a Veneza.
Era a 1ª vez que visitava Veneza e, nesse entardecer em que o sol vermelho já quase desaparecia no horizonte, reflectindo a sua luz magnífica nas águas calmas dos canais, senti a beleza, quietude e mistério daquela cidade.
Veneza, para mim, não será mais um nome ou um ponto no mapa.
Veneza será sempre a mortal inimiga dos sons verbais.
Inspirado em "Italian Journey"
de Johann Wolfgang von Goethe
Teresa E.
Desde que regressei, passo os dias fechada num espaço austero e estranho, onde a minha vida se vai esbatendo.
A minha força que esteve ausente de mim tanto tempo está a voltar. Só assim consigo suportar toda a rotina e toda a mudança que eu escolhi e que vão escolhendo por mim... até eu permitir...
Aprendi a fechar o meu rosto, a dizer palavras soltas e sem conteúdo, repletas de um optimismo que muitas vezes não sinto, para me proteger e poder sobreviver neste mundo de homens ambiciosos, sedentos de poder e dinheiro e completamente desumanizados.
Aprendi que a maioria das pessoas que nos cercam, não gostam de ouvir os problemas dos outros. Gostam de pessoas sorridentes, saudáveis de corpo e espirito, vencedoras e que respondam à pergunta da praxe - como estás? - com um socialmente correcto: muito bem; cada vez melhor; sempre bem, e por aí fora. Devem ter medo que o que nos aflige os possa atingir também, um dia.
Aprendi a interpretar os sinais e por isso comecei a usar pela primeira vez na minha vida uma máscara de contentamento moderado ( porque também aprendi que não podemos mostrar muita felicidade). Ainda estou a habituar-me a ela. É um pouco grande e desajustada e por vezes os orificios dos olhos, mostram-me lugares maravilhosos, rios de águas cristalinas e frescas que me fazem esquecer por breves momentos que estou prisioneira numa caixa de cimento e vidro.
Aprendi que apesar dos tons cinzentos que me rodeiam, e dos sons da banalidade que me vão chegando, sou dona de um poder enorme que me faz viajar incólume para lugares só meus. Sítios que pinto com a paleta dos meus sonhos.
T.E. - 12/03/06)
Vesti-me de túnicas de cambraia azul, salpicadas de beijos cor de carmim e esta noite dancei só para ti.
....
Nunca sabes quando eu chego, por isso esperas-me receoso e inseguro porque desconheces se a minha última visita, não terá sido a derradeira. Faz parte da ilusão que criei e na qual resvalas todas as noites e, eu sei que gostas desta incerteza que te desespera mas que te enfeitiça cada vez mais.
Quando danço para ti , o toque não é permitido. Ficas sentado nessa poltrona, em que passas muitas horas dos teus dias e olhas-me na minha dança selvagem.
....
Já me vesti de preto e dancei um tango atrevido
e até já valsei vestida de branco e rosa ,
mas esta noite em que o meu corpo,
estava de azul vestido,
fui uma Duncan provocadora e livre,
rodopiando á tua volta.
....
Em certas noites, abro a porta tão mansamente que mal dás pela minha chegada. Aproximo-me silenciosamente e quando o meu perfume me denuncia, viras-te, corres para mim e abraçamo-nos como se fosse um primeiro encontro. É aí que reside a alquimia, os nossos encontros são sempre primeiros encontros, onde nada se sabe e tudo é mistério.
Também existem noites, em que tu me contas a tua vida passada, as tuas histórias e o teu sentir. Sento-me no chão, com a cabeça apoiada no teu colo e enquanto me afagas os cabelos, eu fecho os olhos e viajo ao som da tua voz quente e calma. Nessas alturas invade-me uma sensação de paz e o meu coração viajante. segreda-me desejos de permanência mas que teimo em não escutar. Se eu ficasse contigo, deixaria de ser quem sou.
...
As nossas noites são a nossa vida,
porque com a manhã, cessa a magia
Não sabes se volto,
porque é assim que eu quero.
Apenas sabes que é à noite que eu danço só para ti!
Teresa E.
22/09/06
Sexta-feira, 15 de Setembro de 2006
Mesmo em silêncio
Os meus olhos falam
E ditam as palavras
Que os meus lábios
Cerrados teimam
Em te esconder
Só eles me denunciam
Porque te dão
A imagem clara
Do meu sofrer
Do meu amor
Da minha solidão
E da maresia do
Meu olhar azul
Nascem sulcos
De água fresca
Que escavam rugas
No meu rosto de areia
E se não vieres
Ficarei desfeita
Pela força do mar
Que é azul e verde
Como o meu olhar
Mar
(T.E.)
Quinta-feira, 14 de Setembro de 2006
Quando me perco
de mim, de ti
ouço o mar
sussurar p'ra mim
Mar amar
mistura doce
amarga e fria
feita de sal
no areal estendida
adormecida
Mar amar
vem desnudar-te
toda para mim
inquietas ondas
vêm esperar-te
sou o teu fim
sereno e puro
sono profundo
Mar amar
perdida por ti
mergulho cega
porque é assim
corrente forte
renasço enfim
Teresa E.
2005